sábado, 18 de outubro de 2008

BATISTAS REGULARES: um olhar acadêmico



SILVA, Francisco Jean Carlos da. Batistas Regulares: uma abordagem histórico-sociológica.

Natal: EDUFRN, 2006, 122pp.

“Religião não se discute”, assevera o adágio popular. No entanto, tal afirmação não se sustenta diante dos olhares de alguns aventureiros do conhecimento humano. Que o digam as numerosas pesquisas abrangendo a temática religião, tanto no espaço acadêmico nacional quanto o estrangeiro.
O livro Batistas Regulares: uma abordagem histórico-sociológica, de Francisco Jean Carlos da Silva, compõe esse crescente acervo bibliográfico. Seridoense de Santa Cruz/RN, Jean Carlos passou a viver na capital potiguar onde se licenciou em Pedagogia (UFRN), tornou-se bacharel em Teologia pelo Seminário e Instituto Batista Bereiano e concluiu Mestrado em Ciências Sociais, também na UFRN. Atualmente, doutorando em Educação, leciona na Universidade Estadual Vale do Acaraú, edita a revista Fundamentos da Fé, além de ser pastor da IBR da Candelária, Natal/RN.
Sabemos que outros pesquisadores já se aventuraram para construir um saber histórico acerca dos Batistas Regulares, seja numa pesquisa de abrangência nacional ou limitada ao espaço potiguar. Como exemplo do primeiro, está o trabalho do pastor paraibano, graduado em História, Jaime A. Lima, com o livro Que povo é esse? História dos Batistas Regulares no Brasil (Ed. Batista Regular, 1997). Nessa obra, Jaime Lima identifica e alista nomes, datas, lugares e memórias para elaborar trajetórias de origens, desenvolvimento e consolidação dos trabalhos Batistas Regulares em diversos tempo e espaços. Representante das pesquisas em nível estadual citamos o livro do pastor potiguar Sebastião Tenório Rocha que, em Os Batistas Regulares no RN: lutas e vitórias (2ª ed.,2006), compila extensa documentação e fontes históricas (fotos, registros, ofícios, cartas, estatutos, etc) referentes as ações humanas desse grupo eclesiástico no Rio Grande do Norte.
Sendo assim, o que diferencia a dissertação de Jean Carlos dos demais trabalhos citados? Ora, por tratar-se de um trabalho elaborado sob orientação de uma pós-graduação acadêmica (mestrado), encontramos aspectos e abordagens diferenciadas, principalmente pelo suporte teórico sobre o qual o autor desenvolve a dissertação.
Na construção textual, Jean Carlos, valeu-se de múltiplas fontes e métodos de pesquisa, tais como: entrevistas, questionários, análises bibliográfica e documental, fundamentando a dissertação em seu caráter acadêmico.
De modo que, no primeiro capítulo apresenta, em síntese, a trajetória histórica dos Batistas Regulares na Inglaterra, EUA, até a chegada ao Brasil. Lugares, sujeitos e memórias compõem esse panorama histórico que vai sendo construído pelo autor.
Os diálogos com outros autores e obras, ganham espaço no segundo capítulo, onde Jean Carlos discute a relação dos Batistas Regulares com o fundamentalismo protestante. Aqui, encontramos relevantes leituras de teóricos da temática, a saber, Karen Armstrong, Zygmunt Bauman, George Marsden e Ricardo Gondim. Não deixando ausentes pensamentos dos clássicos de Immanuel Kant e Friedrich Hegel.


Aprendemos com Jean Carlos o exercício acadêmico da problematização de reflexões acerca da relação entre espiritualidade, valores humanos e compreensão de mundo neste início de século. Estimulando o leitor, membro ou não de uma igreja Batista Regular, a pensar o que é ser desse grupo e como o mesmo se faz diante da configuração do quadro religioso contemporâneo.
No terceiro capítulo, o pesquisador parte para a análise do conceito de modernidade, num enfoque que busca a compreensão acerca da postura dos Batistas Regulares diante desse momento particular do pensamento e prática social, provocando o leitor ao afirmar que, talvez os Batistas Regulares, em certo sentido, tenham adotado um tipo de asceticismo cristão que penetra exatamente numa prática meticulosa, amoldando-se a uma vida racional que pode tornar a espiritualidade fria e calculista[...] diferente do cristianismo em sua manifestação primitiva.
É no quarto e último capítulo que está mais uma particularidade do trabalho de Jean Carlos nessa dissertação, nos mostrando as tensões entre os Batistas Regulares, através das abordagens aos conceitos de Núcleo Duro, Baixa Complexidade e Rito, tendo como suporte teórico os pensamentos de Edgar Morin e Aldo Terrin, acompanhados da leitura e interpretação de dados estatísticos referentes à presença do grupo no Rio Grande do Norte.
Espero que esta breve resenha possa conduzi-lo(a), sem demora, a leitura de Batistas Regulares: uma abordagem histórico-sociológica, beneficiando-se da leitura de uma obra assentada em sólida argumentação teórica, mas de exposição agradável, repleta de exemplos, constituindo-se num marco das pesquisas nessa temática.




Publicado na Revista Fundamentos da Fé, nº31, 2008.


ISSN 1808-3315

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